Esta é a história de Kya, uma menina de 6 anos que se vê abandonada pela sua mãe, e, pouco a pouco, por toda a sua família. Durante trezentas e noventa páginas acompanhamos o crescimento desta menina, tanto a nível físico, como a nível psicológico. A razão do abandono gradual de toda a família prende-se com um pai alcoólico e violento. Após a partida da mãe (imagem que me ficará para sempre na memória) e, posteriormente, dos irmãos, Kya é deixada à mercê do pantanal e do mundo. O pantanal é um meio marginalizado e é, no seio da natureza selvagem, que assistimos à evolução desta criança. O que torna o livro tão bonito é esta dualidade entre inocência e consciência. Ora vemos uma criança que trava amizade com as gaivotas e coleciona penas de aves, ora vemos uma criança “dona de casa”, responsável pela sua sobrevivência. É a consciência do abandono, mas a felicidade por ser livre. Livre de convencionalismos, mas não livre de preconceitos. Chamada de “miúda do pantanal” Kya sofre n...
Morreste-me é uma obra de ficção com apenas 60 páginas, mas com um peso emocional do tamanho do mundo. É um texto honesto, intimista, marcante e profundamente doloroso. O título deste livro, conjugado com um pronome, padece de uma falha gramatical que apenas demonstra a intensidade e a desordem que o sentimento de perda causa no protagonista. Esta desordem perpassa em toda a obra, seja a nível de construção frásica, seja a nível do conteúdo. Estamos perante um protagonista dilacerado pela morte do pai. Há dois momentos que se intercalam nesta narrativa, ou seja, os dias marcados pela doença gradual do pai “doía-me a vida, doía-me a vida que em ti se negava, a vida a gastar-te, ainda que a amasses, a vida a derrubar-te, ainda que a amasses” e os dias após a morte do pai “tudo o que te sobreviveu me agride.” É impossível ficar indiferente a este grito de lamento. É impossível não sentir a dor visceral que o protagonista sente. A vida do pai termina e dói saber que o mundo c...