Morreste-me é uma obra de ficção com apenas 60 páginas, mas
com um peso emocional do tamanho do mundo. É um texto honesto, intimista,
marcante e profundamente doloroso.
O título deste livro, conjugado com um pronome, padece de
uma falha gramatical que apenas demonstra a intensidade e a desordem que o
sentimento de perda causa no protagonista. Esta desordem perpassa em toda a
obra, seja a nível de construção frásica, seja a nível do conteúdo.
Estamos perante um protagonista dilacerado pela morte do
pai. Há dois momentos que se intercalam nesta narrativa, ou seja, os dias
marcados pela doença gradual do pai “doía-me a vida, doía-me a vida que em ti
se negava, a vida a gastar-te, ainda que a amasses, a vida a derrubar-te, ainda
que a amasses” e os dias após a morte do pai “tudo o que te sobreviveu me
agride.”
É impossível ficar indiferente a este grito de lamento. É
impossível não sentir a dor visceral que o protagonista sente.
A vida do pai termina e dói saber que o mundo continua a
girar no seu esplendor. Ninguém parou nesse dia, todos continuaram a viver as
suas vidas. Porém, a vida do protagonista parou. A terra onde cresceu magoa-o,
pois está repleta de memórias e de imagens do pai.
Resta-lhe perdoar. Perdoar a vida e a morte. Entender que há
ciclos que tem de ser fechados.
“descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não me esqueço,
ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei.
Ficam as memórias dos tempos felizes e dos sorrisos fáceis.
Porém é tempo de renascer.
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