Avançar para o conteúdo principal

Morreste-me - José Luís Peixoto

 


Morreste-me é uma obra de ficção com apenas 60 páginas, mas com um peso emocional do tamanho do mundo. É um texto honesto, intimista, marcante e profundamente doloroso.

O título deste livro, conjugado com um pronome, padece de uma falha gramatical que apenas demonstra a intensidade e a desordem que o sentimento de perda causa no protagonista. Esta desordem perpassa em toda a obra, seja a nível de construção frásica, seja a nível do conteúdo.

Estamos perante um protagonista dilacerado pela morte do pai. Há dois momentos que se intercalam nesta narrativa, ou seja, os dias marcados pela doença gradual do pai “doía-me a vida, doía-me a vida que em ti se negava, a vida a gastar-te, ainda que a amasses, a vida a derrubar-te, ainda que a amasses” e os dias após a morte do pai “tudo o que te sobreviveu me agride.”

É impossível ficar indiferente a este grito de lamento. É impossível não sentir a dor visceral que o protagonista sente.

A vida do pai termina e dói saber que o mundo continua a girar no seu esplendor. Ninguém parou nesse dia, todos continuaram a viver as suas vidas. Porém, a vida do protagonista parou. A terra onde cresceu magoa-o, pois está repleta de memórias e de imagens do pai.

Resta-lhe perdoar. Perdoar a vida e a morte. Entender que há ciclos que tem de ser fechados.

“descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não me esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei.

Ficam as memórias dos tempos felizes e dos sorrisos fáceis.

Porém é tempo de renascer.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Tudo o que nunca fomos - Alice Kellen

  Quando vi a sinopse deste livro achei que fosse mais uma história cheia de drama e clichês mas não podia estar mais enganada. Este livro foi uma agradável surpresa porque aborda temas difíceis de uma forma suave e bonita. Leah e Oliver veem a sua vida virada do avesso quando os pais morrem num acidente de carro. As consequências são devastadoras e muito diferentes em ambos. Oliver “obriga-se” a crescer e mascara a dor através das responsabilidades assumindo a posição de tutor da irmã, ao passo que Leah, mergulha num estado de isolamento e de profunda apatia. Leah que sempre adorou pintar a vida de todas as cores, deixa de o fazer. Com contas para pagar e com a responsabilidade de garantir um futuro para a irmã, Oliver aceita uma proposta de trabalho longe de casa. Axel, o melhor amigo de Oliver, aceita “tomar conta de Leah” durante a sua ausência. Axel tem agora uma missão. Resgatar Leah, fazê-la voltar a acreditar nas cores que a vida tem. Mostrar que podemos renascer ap...

Recomeçar Again – Mona Kasten

  Liberdade. Este é o propósito de Allie Harper quando muda de cidade e de vida. Allie sonha com este dia há muito. O dia em que finalmente se torna independente e recomeça um novo ciclo da sua vida. Porém, Allie precisa de uma sitio para morar, várias são as casas que visita, mas só uma parece ser a certa. O apartamento de Kaden White. Kaden é intragável, à primeira vista e talvez à segunda e à terceira. Ele dita um conjunto de regras que terão de ser respeitadas para a vivência de ambos. Contudo, há sentimentos à espreita e nem sempre será fácil respeitar os limites. Esperava mais desta leitura. Tanto pelas opiniões que já tinha ouvido, como pelo romance em si, pois quem consegue resistir a um bad boy mas com um coração do tamanho do mundo? Tal não se verificou. Achei a história muito fraquinha e demasiado previsível. Os personagens têm pouca densidade e, quase sempre, vivem num melodrama diário. Apesar de ser um YA, pende exageradamente para o young. Creio que a ún...

O dia em que perdemos a cabeça - Javier Castillo

O título e a capa deste livro contribuem para nos interessarmos, desde logo, por esta leitura. As cores, a imagem e o jogo de palavras sugerem uma aura de mistério que estará, de facto, presente ao longo de toda a narrativa. O dia em que perdemos a cabeça é uma alusão literal e psicológica que toma parte de toda a ação do livro. Nesta narrativa confluem três ações diferentes que tem lugar em espaços e tempos diferentes. Estas ações são delimitadas pela alternância de capítulos. Os capítulos são curtos e muito intensos o que acaba por deixar o leitor muito atento e sedento de mais história. A premissa “principal” é insólita. Um homem caminha nu com uma cabeça na mão no dia 24 de dezembro. As teorias surgem, de imediato e à velocidade da luz. Somos arrastados para uma atmosfera de mistério, sem que inicialmente, consigamos perceber muito. Como seria de esperar, e sem oferecer resistência, este homem é preso e levado para interrogatório. A investigação posterior é conduzida pelo ...