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Flores - Afonso Cruz


“viver não tem nada a ver com isso que as pessoas fazem todos os dias, viver é precisamente o oposto, é aquilo que não fazemos todos os dias.”

é com esta lição que embarcamos nesta história sobre a vida. e não falo sobre a vida num sentido generalizado, como fala a maioria dos livros, a vida que aqui é falada toca-nos o coração.

esteticamente este livro é uma obra de arte. é um livro com uma capa preta dura, sem grandes floreados, apenas com o título e o nome do autor. o título, à priori sem grandes segredos, emana um significado bastante profundo. ainda no seguimento da estética do livro, os capítulos curtos e as primeiras palavras de cada capítulo em destaque, contribuem para uma leitura interessante, fluída e que nos deixa absortos.

confesso que é um livro que sublinhei bastante, aliás, este é um livro para ser sublinhado. tem pensamentos e raciocínios que constituem grandes lições de vida, pelo que é realmente impossível ficar indiferente.

a história conta com duas ações paralelas que, a dada altura, se cruzam e se fundem. à medida que uma ganha força, peso e medida, a outra vai-se diluindo, até se perder.

esta é a história de um homem estremecido pela rotina. um homem mergulhado no vazio existencial e na dor de estar onde não queria estar.  procura o significado da vida no espelho. procura, avidamente, um propósito para sair da estagnação em que se encontra.

tudo muda na vida de Kevin quando conhece e trava amizade com um vizinho, aparentemente estranho, mas que irá revolucionar a sua vida.

quando o Sr. Ulme perde a memória devido a um aneurisma, Kevin declara “como não conseguia resolver a minha vida, decidi continuar a recuperar a do senhor Ulme." e é aqui que começa uma jornada de redenção e de autoconhecimento. Com a veia jornalística a pulsar, ele decide procurar a família do Sr. Ulme e fazer várias perguntas para tentar reconstruir a história do seu amigo.

ao fim de algum tempo e após um casamento desfeito, o protagonista consegue invocar várias memórias e histórias da vida do Sr. Ulme. umas mais, outras menos felizes, porém é esse último reduto de vida que lhe traz felicidade e esperança aos dias que se aproximam. “não vou perder tempo a morrer enquanto posso estar vivo”.

Flores deixa-nos emotivos. Faz-nos refletir sobre a nossa condição e sobre o caminho que queremos seguir. Deixa-nos também uma certeza “o mundo, quer-me parecer, é muito mais um sorriso ou uma flor a abanar ao vento do que um terramoto, um monumento de pedra ou um grand canyon.”

a felicidade não é sobre tudo o que vemos de muito grandioso, é sobre pequenos gestos, é sobre sentir que fizemos e continuamos a fazer a diferença na vida de alguém.

a felicidade não é aquilo que imaginamos. a felicidade é um conjunto de pequenas coisas que juntas preenchem cada pedacinho do nosso coração. 


 

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