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Lá, onde o vento chora - Delia Owens

 


Esta é a história de Kya, uma menina de 6 anos que se vê abandonada pela sua mãe, e, pouco a pouco, por toda a sua família. Durante trezentas e noventa páginas acompanhamos o crescimento desta menina, tanto a nível físico, como a nível psicológico. A razão do abandono gradual de toda a família prende-se com um pai alcoólico e violento.

Após a partida da mãe (imagem que me ficará para sempre na memória) e, posteriormente, dos irmãos, Kya é deixada à mercê do pantanal e do mundo. O pantanal é um meio marginalizado e é, no seio da natureza selvagem, que assistimos à evolução desta criança. O que torna o livro tão bonito é esta dualidade entre inocência e consciência. Ora vemos uma criança que trava amizade com as gaivotas e coleciona penas de aves, ora vemos uma criança “dona de casa”, responsável pela sua sobrevivência. É a consciência do abandono, mas a felicidade por ser livre. Livre de convencionalismos, mas não livre de preconceitos. Chamada de “miúda do pantanal” Kya sofre nas mãos de uma sociedade que insiste em marginalizar aquilo que não compreende.

Inicialmente os capítulos alternam entre o passado e o presente, sendo que no presente há um homicídio e é aberta uma investigação para apurar o responsável. Várias teorias vão surgindo, porém, como seria expectável, Kya tornar-se-á a principal suspeita.

O final do livro é um pouco inesperado, mas, após alguma reflexão, faz todo o sentido.

Esta não é somente a história de vida de Kya. É uma aprendizagem sobre a natureza e o mistério que ela encerra. É sobre o preconceito e as suas repercussões. É sobre o efeito nefasto que o abandono e a falta de amor provocam no ser humano e, por consequência, molda toda a vida adulta.

Este livro é descrito como “dolorosamente bonito”. Assim que comprei o livro fiquei a refletir sobre este antagonismo. Após a sua leitura, concluo que o título e a capa fazem todo o sentido. A definição do título é tão pura que me fez chorar.

Aliás, foram várias as vezes que chorei e senti revolta. É, de facto, um livro com uma carga emocional forte, mas é um livro de aprendizagem e, sobretudo, de humanização. É uma lição para todos nós. Por favor, leiam este livro, não se vão arrepender.

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