“Talvez eu
tenha encontrado uma solução para o Problema Esposa” é com esta premissa que
somos apresentados à história de Don e da sua procura exímia de uma esposa para
partilhar a vida.
Don Tillman
é um homem de 39 anos, professor e investigador de genética, cuja vida é perfeitamente planeada através do cumprimento
rigoroso de tarefas e de horários. Tudo na sua vida é uma rotina planeada com
exatidão e sem falhas, desde as idas ao supermercado, a confeção de refeições,
os minutos dedicados à prática de desporto, até os telefonemas da mãe,
acontecem todos os domingos à mesma hora, sem exceção. Quando somos
confrontados com a personalidade de Don, sentimos um misto de duas emoções,
tédio e riso. Estes dois sentimentos contraditórios devem-se ao facto de Don
relatar o seu dia a dia com horas exatas, utiliza sempre um vocabulário
demasiado literal, não se deixa influenciar por emoções e, quase sempre,
denotamos ausência de capacidade social, o que culmina em situações verdadeiramente
hilariantes. O que para o leitor parece uma vida absolutamente entediante, para
Don é felicidade no seu estado mais puro.
Com uma
vida relativamente estável, Don decide criar um projeto que consiste na criação
de questionários, com perguntas estrategicamente elaboradas, com o objetivo de
encontrar a esposa perfeita. Vão surgindo várias candidatas, porém todo o
projeto irá revelar-se um fracasso, por razões que nos parecem, de antemão,
óbvias. Surge uma mulher em cena que corresponde a tudo o que é pedido no
questionário e, uma outra, que é totalmente “inadequada”, segundo palavras do
próprio. E é precisamente na contraposição dos comportamentos de ambas que Don
percebe que o projeto é falacioso.
Rosie
representa tudo aquilo que Don despreza. Mas juntos, embarcam numa aventura
para encontrar o pai biológico de Rosie. Será uma verdadeira epopeia que Don
jamais irá esquecer pois permite-lhe testar todos os seus limites e, pela
primeira vez, permite-se saborear a vida.
O livro
está cheio de referências cinematográficas que contribuem imenso para a sua
fluidez e riqueza. Arrisco dizer que Don é um dos personagens melhores
construídos de muitos que já tive oportunidade de “conhecer”. Tem uma evolução
fantástica e inteligente. É hilariante sem cair no ridículo. Este livro
mostra-nos a verdadeira essência do amor e de como ele é captado por pessoas
com “configurações” ( e coloco a palavra entre aspas por ser a mesma utilizada
pelo próprio) diferentes do convencional. Mostra-nos a beleza de se ser
diferente num mundo repleto de estigmas. Quebra preconceitos relacionados com
as doenças mentais e abre portas para entender vários espectros da psicologia.
Todos temos défices e qualidades e a verdadeira lição é aceitarmo-nos como
somos para os outros nos aceitarem também.
O projeto
esposa falhou porque Don chegou a uma conclusão: “(…) não tinha concebido o
questionário para encontrar uma mulher que eu pudesse aceitar, mas para
encontrar alguém que me pudesse aceitar.” Creio que a grande lição reside neste
conceito de autenticidade. Reside nos pequenos pormenores que, em conjunto, nos
definem enquanto pessoas diferentes umas das outras. A perfeição não existe e,
se existisse, era aborrecida. O amor é imperfeito mas belo. O amor é assim.
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