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Coisas que nos diz o coração - Jessi Kirby

Como o próprio título sugere, este romance terá como premissa principal questões do coração, na sua forma mais literal mas também metafórica.

Quatrocentos dias passam após um acontecimento mais trágico na vida de Quinn, uma jovem que perde o namorado num acidente. É através desta contagem dos dias que sentimos empatia pela situação de Quinn e, inclusive, sentimos a sua dor como sendo nossa.

Cinco orgãos de Trent são doados, inclusive, o orgão mais primordial, o coração. Quinn decide escrever cartas aos recetores dos orgãos, pois crê que é a única forma de ultrapassar o trauma e seguir em frente. Porém, há uma única pessoa que não responde à sua carta. O recetor do coração.

Quinn lança-se numa missão para tentar descobrir mais sobre esta pessoa que ficou com o coração da pessoa que mais amava. Sente uma necessidade absurda de o conhecer como se, de alguma forma, ele pudesse substituir Trent. Partindo do pressuposto que o coração é o mesmo, apenas com a particular diferença do corpo ser diferente.

Sem pretensões de o conhecer, apenas avistá-lo, o destino troca-lhe os planos e eles acabam por se cruzar. À medida que o tempo vai passando e os sentimentos se vão aflorando, também a culpa se vai agudizando. Tanto por sentir que está a trair Trent com alguém novo, como pela mentira, pois Colton não sabe quem é verdadeiramente Quinn.

Quinn tem pela frente uma luta intensa com o seu coração. Por um lado, não quer esquecer Trent, o primeiro grande amor da sua vida, por o outro, Colton representa a liberdade e a descoberta de um novo mundo de sensações, o despertar para um novo amor.

Estará Quinn disposta a deixar o amor entrar? Ou ficará para sempre relutante e presa ao passado?

O livro é muito fácil de ler porque é constituído por capítulos curtos, precedidos por citações sobre o coração, enquanto orgão vital. Este facto denota algum trabalho de investigação por parte da autora que teve um cuidado extraordinário ao trazer ao leitor informações bastante pertinentes.

No entanto, uma história que tinha uma boa premissa  acabou por se tornar num melodrama aborrecido e sem qualquer novidade. A história tinha imenso potencial, como comprovam as primeiras duas páginas de “prólogo”. Porém, a essência da história acabou por se manter demasiado linear e com personagens pouco exploradas. E é sempre triste esta sensação de uma história ficar aquém, quando não era expectável.

Coisas que nos diz o coração é um romance que nos mostra, essencialmente, o poder do amor e os efeitos contraditórios que ele tem sobre nós. Citando Luís de Camões, “o amor tem razões que a própria razão desconhece”.


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