Avançar para o conteúdo principal

Os Interessantes - Meg Wolitzer


“Numa noite amena no início de Julho daquele ano há tanto evaporado, os Interessantes reuniram-se pela primeira vez.”
Ano de 1974. É o ano em que, pela primeira vez, em plenas férias de Verão num campo de férias, um grupo de seis amigos junta-se e autoproclama-se “os interessantes”.
Apesar de haver seis personagens principais, inicialmente, há uma que se vai destacando pois a narração é feita através do olhar dela.
Julie, Ash, Ethan, Goodman, Jonah e Cathy. Seis amigos que fazem uma promessa de amizade eterna. Seis amigos que partilham os mais diversos talentos. Seis amigos que sentem invencíveis e, sobretudo, mais interessantes que a maioria dos comuns mortais.
Porém, este sentimento de invencibilidade será diluído através do tempo e da vida. Esta questão das expectativas falhadas é algo muito bem retratado neste livro. A sensação da adolescência de que dominamos o mundo e nascemos para vencer, rapidamente se transforma em frustração, medo e resignação. E é esta a dor de Jules e a nossa. O tempo passa e rouba-lhes a esperança e o “talento”.
O que mais gosto nesta “caminhada” pela vida dos personagens é o facto de termos acesso a tudo o que eles são, no seu mais íntimo. Não há certo ou errado. Não há aquele conceito do bem. Há uma luta constante entre aquilo que são e o que gostariam  de ser, entre querer a felicidade do amigo mas ter inveja dela.
Ninguém nos prepara para num dia sermos interessantes e, no outro, sermos comuns. Este tipo de desencanto transforma estes amigos. Traz à tona sentimentos mais sombrios mas legítimos.”(…) Talvez na vida houvesse não apenas momentos de estranheza mas também momentos de conhecimento.” É talvez nas circunstâncias mais desfavoráveis que estes amigos se descobrem.
Apesar da dolorosa constatação de que “só se tinha uma oportunidade de criar uma identidade na vida, mas a maior parte das pessoas não deixava qualquer marca.”, eles continuam o caminho. Apesar da tentativa de alheamento, da recusa em assumir que, afinal, nem sempre são moralmente corretos, eles continuam a desempenhar o papel que lhes é esperado. Ao longo dos cinquenta anos aqui descritos, aquele verão de 1974 será sempre um refúgio. Uma espécie de lugar-sonho. Um lugar onde ir quando nada parece dar certo.
Um lugar de projeções, de talento, de vida que apenas perdura na memória. Juntamente com a triste perceção de que afinal “não são assim tão interessantes”.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Tudo o que nunca fomos - Alice Kellen

  Quando vi a sinopse deste livro achei que fosse mais uma história cheia de drama e clichês mas não podia estar mais enganada. Este livro foi uma agradável surpresa porque aborda temas difíceis de uma forma suave e bonita. Leah e Oliver veem a sua vida virada do avesso quando os pais morrem num acidente de carro. As consequências são devastadoras e muito diferentes em ambos. Oliver “obriga-se” a crescer e mascara a dor através das responsabilidades assumindo a posição de tutor da irmã, ao passo que Leah, mergulha num estado de isolamento e de profunda apatia. Leah que sempre adorou pintar a vida de todas as cores, deixa de o fazer. Com contas para pagar e com a responsabilidade de garantir um futuro para a irmã, Oliver aceita uma proposta de trabalho longe de casa. Axel, o melhor amigo de Oliver, aceita “tomar conta de Leah” durante a sua ausência. Axel tem agora uma missão. Resgatar Leah, fazê-la voltar a acreditar nas cores que a vida tem. Mostrar que podemos renascer ap...

Recomeçar Again – Mona Kasten

  Liberdade. Este é o propósito de Allie Harper quando muda de cidade e de vida. Allie sonha com este dia há muito. O dia em que finalmente se torna independente e recomeça um novo ciclo da sua vida. Porém, Allie precisa de uma sitio para morar, várias são as casas que visita, mas só uma parece ser a certa. O apartamento de Kaden White. Kaden é intragável, à primeira vista e talvez à segunda e à terceira. Ele dita um conjunto de regras que terão de ser respeitadas para a vivência de ambos. Contudo, há sentimentos à espreita e nem sempre será fácil respeitar os limites. Esperava mais desta leitura. Tanto pelas opiniões que já tinha ouvido, como pelo romance em si, pois quem consegue resistir a um bad boy mas com um coração do tamanho do mundo? Tal não se verificou. Achei a história muito fraquinha e demasiado previsível. Os personagens têm pouca densidade e, quase sempre, vivem num melodrama diário. Apesar de ser um YA, pende exageradamente para o young. Creio que a ún...

O dia em que perdemos a cabeça - Javier Castillo

O título e a capa deste livro contribuem para nos interessarmos, desde logo, por esta leitura. As cores, a imagem e o jogo de palavras sugerem uma aura de mistério que estará, de facto, presente ao longo de toda a narrativa. O dia em que perdemos a cabeça é uma alusão literal e psicológica que toma parte de toda a ação do livro. Nesta narrativa confluem três ações diferentes que tem lugar em espaços e tempos diferentes. Estas ações são delimitadas pela alternância de capítulos. Os capítulos são curtos e muito intensos o que acaba por deixar o leitor muito atento e sedento de mais história. A premissa “principal” é insólita. Um homem caminha nu com uma cabeça na mão no dia 24 de dezembro. As teorias surgem, de imediato e à velocidade da luz. Somos arrastados para uma atmosfera de mistério, sem que inicialmente, consigamos perceber muito. Como seria de esperar, e sem oferecer resistência, este homem é preso e levado para interrogatório. A investigação posterior é conduzida pelo ...