Campânula de vidro (1963)
é o único romance da escritora norte-americana, SylviaPlath, tendo sido
publicado sob o pseudónimo de Victoria Lucas.É considerado uma das obras mais
importantes da prosa contemporânea por alguns dos seus temas, como o feminismo.
A escritora americana publicou sob um pseudónimo devido à sincronia dos factos
retratados. A obra baseia-se na experiência que Plath viveu em Nova Iorque. Em
1953, desloca-se para a cidade, a fim de colaborar na revista “Mademoiselle”.
Contudo, esta foi uma experiência bastante negativa, deixando-a
desorientada.Grande parte desta experiência serviu de inspiração à conceção do
romance.
Campânula de viro é um romance centrado na protagonista Esther Greenwood e nos seus conflitos
pessoais e sociais. O início do romance é revelador pois sugere, numa
perspetiva de passado, a espiral de acontecimentos negativos que se sucederão.
A protagonista refere que “Foi um verão estranho e abafado” aquele que passou
em Nova Iorque, tendo como pano de fundo, a execução dos Rosenberg, acusados de
espionagem. Portanto, está aqui lançada, a primeira semente que levará ao
desfecho trágico da personagem.
Esther
não se sente minimamente estimuladapela cultura e pelo modo de vida da grande
cidade, não se identifica com as jovens que, como ela, foram escolhidas para o
estágio. Vê nelas o tédio e a resignação inerentes à condição feminina, sem que
tenham consciência disso. A protagonista ambiciona mais do que apenas estudar
moda, arranjar o cabelo e pintar as unhas.É neste contexto que Esther começa a
dar mostras de profundo desencantamento e de infelicidade. À medida que o verão
avança, também o seu estado depressivo se adensa. O leitor acompanha,
lentamente, a decadência de Esther. Inicialmente predominam sentimentos de
inadaptação e de estranhamento. Começam as indagações sobre o propósito da vida
e, a triste conclusão, de que não “conquistara absolutamente nada”. Este
sentimento de incapacidade e de vazio revelar-se-á fatal. Num primeiro plano,
assistimos à reclusão social de Esther. É intensa a sua apatia e a vontade de
estar fechada no quarto, vendo os dias a passar, sem nada fazer. Num plano
posterior, assistimos à decadência, irremediável, da protagonista.
Ao
longo do romance verificamos, atentamente, o cruzamento ténue entre a lucidez e
loucura. Esther tem um “problema não no corpo, mas no espírito”. Se, por um
lado, compreendemos o seu estado de híper consciência, em que procura soluções
para o seu futuro, por o outro, somos cúmplices dos seus projetos suicidas.
Especula-se que sofra de bipolaridade. Ela descreve, detalhadamente, a falta de
coragem que teve em cortar os pulsos, pois a pele era muito macia, ou como os
tetos de casa são baixos demais para conseguir enforcar-se. Recorre, porém, ao
terceiro plano. Vai para um esconderijo na cave, e toma comprimidos, até
desmaiar. Acaba por ser salva e é internada numa ala psiquiátrica até conseguir
melhoras profundas.
Apesar
deste final inesperado, em que Esther revela uma mudança substancial, afirmando
“Estou viva, estou viva, estou viva”não convence o leitor que, tem profunda
noção da realidade.
Em Campânula de vidro não há uma separação
definitiva entre o que é ficcional e o que é verídico. Sabemos, portanto, que
há uma confluência dos factos. Será coincidência a comparação do seu estado de
alma com uma campânula de vidro? A asfixia e a escuridão que sente, culminam na
sua morte, por inalação de gás, no dia 11 de fevereiro de 1963. Terá o título
do romance servido como mote para a peculiaridade de tal morte?
Podemos
concluir que, na presente narrativa,convergem vários temas pertinentes do
século XX. Plath dá provas de que a igualdade de género é algo pelo qual vale a
pena lutar, pois não se conforma com o papel limitado da mulher. A própria
questão da virgindade está muito bem exposta. A protagonista questiona esta
diferença de tratamento. Para um homem, dormir com várias mulheres, é sinal de
virilidade, contudo, para uma mulher, significa desonra. A sua constante
inadaptação também se prende com a revolta de viver num mundo onde a
desigualdade de género está visceralmente enraizada.
A
questão do suicídio também é desconcertante pois constitui um anátema. Plath
faz uma crítica mordaz à religião, porque apesar de apregoar a salvação, para
suicidas não há absolvição possível.
A
escritora americana projeta, também,o complexo edipiano. A morte de seu pai,
quando apenas tinha oito anos, marcou-a profundamente.O poema “Daddy”,
incluído, postumamente, em Ariel
(1965), evidencia a (não) relação que nutria por esta figura. Em Campânula de Vidro é evidente a recuperação que
tenta fazer da memória do pai e, o consequente, desprezo que sente pela mãe,
que assume uma atitude estóica perante a morte do marido. Facto perturbador
para Plath.
Este livro é uma narrativa que explora, intensamente, o sentimento de fracasso
ante uma vida totalmente planeada. E, Plath, assume-se como mártir, escolhendo
o seu próprio fim.
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